domingo, 10 de fevereiro de 2019

Diário de um professor estagiário - Dia 5

Na minha última postagem eu contei do episódio quando a professora V. gritou com uma das melhores alunas da turma de acordo com ela mesma, a B. Neste dia, V. estava com atestado médico para 3 dias por problemas na garganta, porém, estava trabalhando.
Todos os dias em que eu observei aula V estava rouca, reclamava que estava com problema na garganta e sem voz. Em muitas das aulas também presenciei V. gritando com os alunos por pouco, batendo a régua de madeira na lousa e dando tapas em carteiras de alunos. Quando ela percebia o exagero de seus atos, tentava se justificar com os alunos, dizendo que eles a deixavam alterada, culpava o barulho da turma de cima ou alguma mudança de rotina.
Eu acredito que a professora V. apresentava síntomas da sídrome de Burnout. Sobre essa síndrome, eu escrevi o seguinte no meu relatório de estágio:

domingo, 3 de fevereiro de 2019

Diário de um professor estagiário - Dia 4

No meu último relato, escrevi sobre a avaliação padronizada de português que as crianças fizeram. A partir deste dia eu pude constatar como o projeto sobre o pantanal no qual os alunos trouxeram  de casa animais feitos de sucata para exporem em um evento na escola não era um movimento tão espontâneo assim. Presenciei as crianças fazendo diversas atividades de preencher fichas técnicas de animais, sendo treinadas à cerca das informações e formatação esperadas neste gênero textual.
Outra atividade que era repetida constantemente era a reescrita de contos de fada. Vi os alunos escutarem a história da Chapeuzinho Vermelho mais de uma vez, e a atividade que dava sequência à leitura da história era sempre a mesma: escrever o que leu/escutou com o máximo de detalhes lembrados e o mais próximo possível do original. 
Todo este treino em sala de aula em um mesmo tipo de atividade acontecia devido às provas padronizadas que exigiam este tipo de conteúdo.
Perceba que a relação é invertida. A professora não tinha autonomia para avaliar o processo de alfabetização dos alunos e à partir de suas demandas formativas criar atividades para que seus alunos se alfabetizassem. A rede estadual de São Paulo supõe habilidades necessárias para a faixa etária, cria atividades de  acordo com estas habilidades e aplica uma prova padronizada para todas as escolas medindo se as crianças alcançaram os objetivos esperados. As consequências deste processo é que as crianças com baixo desempenho nas provas por terem demandas formativas diferentes das que foram trabalhadas em aula são deixadas de lado, ou são treinadas para irem bem nas provas mesmo sem ter domínio ou entendimento do que estão à fazer, já que o desempenho da turma define se a professora merece ou não bonificação no salário. 
Não há saída, sem bonificação o salário é baixíssimo.
Aponto aqui a incoerência de culpar um suposto despreparo dos professores pelo baixo desempenho dos alunos da educação básica. Por mais preparado que estejam, mesmo que tenham ideias de atividades, avaliações formativas, projetos para alfabetização, abordagens construtivistas ou qualquer outra, há amarras no sistema que os impossibilitam de ser autônomos e de assumirem o seu saber. Tudo isso respaldado na falta de confiança no trabalho do professor. É um círculo vicioso.