domingo, 13 de setembro de 2020

Roda, tempo! Relatos curtos em uma pandemia sem fim.

Compartilho com vocês relatos que escrevi para uma disciplina na faculdade chamada Cultura e Educação. Hoje, lendo este trabalho, vejo que criei várias estratégias para viver em isolamento social que tem me ajudado. Espero que possam servir de inspiração, caso precisem.

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Diário de um professor estagiário - Dia 5

Na minha última postagem eu contei do episódio quando a professora V. gritou com uma das melhores alunas da turma de acordo com ela mesma, a B. Neste dia, V. estava com atestado médico para 3 dias por problemas na garganta, porém, estava trabalhando.
Todos os dias em que eu observei aula V estava rouca, reclamava que estava com problema na garganta e sem voz. Em muitas das aulas também presenciei V. gritando com os alunos por pouco, batendo a régua de madeira na lousa e dando tapas em carteiras de alunos. Quando ela percebia o exagero de seus atos, tentava se justificar com os alunos, dizendo que eles a deixavam alterada, culpava o barulho da turma de cima ou alguma mudança de rotina.
Eu acredito que a professora V. apresentava síntomas da sídrome de Burnout. Sobre essa síndrome, eu escrevi o seguinte no meu relatório de estágio:

domingo, 3 de fevereiro de 2019

Diário de um professor estagiário - Dia 4

No meu último relato, escrevi sobre a avaliação padronizada de português que as crianças fizeram. A partir deste dia eu pude constatar como o projeto sobre o pantanal no qual os alunos trouxeram  de casa animais feitos de sucata para exporem em um evento na escola não era um movimento tão espontâneo assim. Presenciei as crianças fazendo diversas atividades de preencher fichas técnicas de animais, sendo treinadas à cerca das informações e formatação esperadas neste gênero textual.
Outra atividade que era repetida constantemente era a reescrita de contos de fada. Vi os alunos escutarem a história da Chapeuzinho Vermelho mais de uma vez, e a atividade que dava sequência à leitura da história era sempre a mesma: escrever o que leu/escutou com o máximo de detalhes lembrados e o mais próximo possível do original. 
Todo este treino em sala de aula em um mesmo tipo de atividade acontecia devido às provas padronizadas que exigiam este tipo de conteúdo.
Perceba que a relação é invertida. A professora não tinha autonomia para avaliar o processo de alfabetização dos alunos e à partir de suas demandas formativas criar atividades para que seus alunos se alfabetizassem. A rede estadual de São Paulo supõe habilidades necessárias para a faixa etária, cria atividades de  acordo com estas habilidades e aplica uma prova padronizada para todas as escolas medindo se as crianças alcançaram os objetivos esperados. As consequências deste processo é que as crianças com baixo desempenho nas provas por terem demandas formativas diferentes das que foram trabalhadas em aula são deixadas de lado, ou são treinadas para irem bem nas provas mesmo sem ter domínio ou entendimento do que estão à fazer, já que o desempenho da turma define se a professora merece ou não bonificação no salário. 
Não há saída, sem bonificação o salário é baixíssimo.
Aponto aqui a incoerência de culpar um suposto despreparo dos professores pelo baixo desempenho dos alunos da educação básica. Por mais preparado que estejam, mesmo que tenham ideias de atividades, avaliações formativas, projetos para alfabetização, abordagens construtivistas ou qualquer outra, há amarras no sistema que os impossibilitam de ser autônomos e de assumirem o seu saber. Tudo isso respaldado na falta de confiança no trabalho do professor. É um círculo vicioso.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Diário de um professor estagiário - Dia 3

Na última postagem, narrei o meu desconforto de ter acesso aos livros didáticos usados pelos alunos da turma da escola enquanto uma das alunas, a M, não tinha nenhum material em sua carteira. Era muito triste vê-la sem livros, cadernos, lápis e atividades. O seu dia escolar consistia em ficar brincando com a cortina da janela ao lado de sua carteira e conversar sozinha, já que os outros alunos a ignoravam ou a tratavam como uma bebê.
A impressão que tive foi que devido ao seu sotaque consideravam que ela não falava português, apesar de vir da Angola, país falante da língua portuguesa. Também a consideravam incapaz de aprender, pois ela era excluída de todas as atividade e dos reforços oferecidos aos outros alunos da turma que não estavam alfabetizados ainda.
Ser confrontado com este racismo naturalizado por toda a escola foi muito doloroso. A única forma de suportar a rotina do estágio foi agindo para tentar minimizar a violência sofrida por M.
No meu terceiro dia de observação, acompanhei a aplicação de uma prova de português, sondagens de alfabetização de dois alunos e conversei com a professora V sobre o aluno que ela mais deu bronca, o GC.

domingo, 6 de janeiro de 2019

Diário de um professor estagiário - Dia 2

Esta é a segunda postagem do meu diário de estágio. Acompanhei uma turma de 30 alunos que tinham entre 7 e 8 anos. Para facilitar a leitura, relembro aqui o nome de algumas personagens:

A professora V;
O aluno "problema" GC; e
A aluna imigrante M.

Dia 2

Na próxima observação que fiz, a M estava com caderno e lápis na mesa, desenhando. A professora, para a aula de português, leu a história da Bela Adormecida escrita no livro de contos infantis que faz parte do material didático da rede estadual. As crianças deveriam prestar atenção para recontar a história.

domingo, 30 de dezembro de 2018

Diário de um professor estagiário - Dia 1

Todo semestre eu faço estágios obrigatórios atrelados às disciplinas do meu curso de pedagogia. Geralmente eles envolvem apenas observações de aula e entrevistas com professores e gestores de escolas públicas daqui de São Paulo. Este semestre, além das observações, foi a primeira vez que fiz regência. 
Quando encontrava meus amigos e namorado depois do estágio eu me via falando sem parar sobre todas as experiências que tive com os alunos do 2º ano de uma escola estadual, e percebi que eram muitas histórias que precisavam ser externadas. Consegui organizar tudo em um relatório de estágio que apenas o meu professor de Metodologia de Português viu e do qual estou preparando um resumo para a professora da turma que acompanhei, mas quero compartilhar com mais gente. Como eu transcrevi o meu diário de campo inteirinho para fazer este trabalho, decidi publicá-lo aqui. Ele consiste das anotações que fiz durante minhas observações. 
O que mais me marcou nesta experiência foi a estafa da professora V., que tentava alfabetizar 30 crianças de 7 anos sem assistente enquanto as treinava para avaliações externas que nada tinham a ver com a necessidade e o cotidiano dos alunos,e a exclusão de uma aluna angolana por toda a escola que a tratava como um fantasma.
A cada semana será postado uma entrada do meu diário de campo. Ao final, publicarei a análise que fiz de alguns aspectos observados e da minha regência. Acredito que estes textos podem ajudar aqueles que tem curiosidade para saber mais sobre a situação das escolas, já que a educação foi um dos tópicos centrais nesta campanha eleitoral. Sintam-se à vontade para comentar e questionar os posts, ok? 

Dia 1


Conheci a turma a qual observei duas vezes por semana pelas manhãs até o fim do semestre. Era o 2º ano A, com 30 alunos que tinham entre 7 e 8 anos. A professora V pediu para que eu me apresentasse à turma e disse que eu estava lá para fazer atividades lúdicas com os alunos. Sentei ao fundo da sala. Na lousa estava escrito um cabeçalho, a “família do ja” (ja - je - ji - jo - ju) e a rotina do dia, que consistia de uma oração, ciências, recreio, português e matemática. Os alunos estavam estudando o bioma do Pantanal.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Os Likanantai e a colonização de hoje


Vista do Mirante do Coiote

Nestas férias de julho eu viajei para San Pedro de Atacama, no Chile. Lá, fui de bicicleta até Pueblo de Tulor, onde ficam as ruínas dos Likanantai, povo que ocupou aquela região antes dos espanhóis chegarem. Quem me disse isso foi Jaqueline, guia das ruínas, que identificava as raízes de sua família com a deste povo originário. O que ela explicou foi mais ou menos o que seguirá escrito aqui.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Trabalhar no aniversário?

Tive uma vontade inédita no dia do meu aniversário. Ele caiu em uma quarta-feira, no meio da semana, e isso nem chegou perto de ser um motivo de chateação.
Gostei muito de fazer aniversário em um dia de trabalho. Ao chegar lá fui surpreendido com os meus colegas cantando feliz aniversário para mim, recebi vários abraços sinceros e tive um horário de almoço em companhia especial. Foi tudo muito bom.
Além disso, dei quatro aulas naquele dia e com elas dei muita risada, contei histórias que gosto muito, brinquei com bexiga, me diverti pacas com meus alunos. No meio de tudo isso nem contei a eles que aquele dia era o meu aniversário.

domingo, 19 de abril de 2015

E quando tudo parecia perdido, me encontrei!



Um ano atrás escrevi sobre minha grande frustração com a vida profissional. Depois de todo aquele drama me esforcei para mudar o que me desagradava e hoje estou muito mais feliz!
Estava insatisfeito com os empregos na área de comunicação que apareciam. Qual foi a solução?
Mudei meu foco. Meu sustento hoje vem da escola de inglês onde trabalho, um dos melhores empregos que já tive. O salário é justo, o ambiente é descontraído, os meus colegas de trabalho se tornaram verdadeiros amigos, a coordenação está sempre aberta às novas idéias, tenho o suporte pedagógico para melhorar e aprender mais sobre a profissão, sem falar de todos os benefícios oferecidos.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Violência dos presídios


De acordo com o Grupo de Trabalho sobre Detenção Arbitrária da Nações Unidas (GTDA/ONU), 40% dos presos no Brasil não foram julgados ainda, são presos provisórios. Muitos deles seriam absolvidos ou teriam penas alternativas se não fosse pela lentidão do sistema judiciário e pela falta de defensoria pública.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Dinheiro atrai dinheiro


Ontem fui ao trabalho sabendo que o dia seria difícil. Meu chefe me mandou ir a um evento de turismo, mas sem nem pensar no trabalho que eu faço todo dia na redação. Então já sabia que quando voltasse ao escritório teria que correr para conseguir entregar o jornal sem atraso para a gráfica.
Cheguei às nove no lugar. Esperei na porta pelo meu chefe pois ele pediu que eu não entrasse sem ele. Era um dia de muito sol em São Paulo e estava difícil achar uma sombra. Uma hora e meia depois, ele chegou.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Voar, voar... Subir, subir...


Eu fico o dia inteiro em um escritório procurando notícias para preencher um jornal e seu site, mas neste processo fico completamente desconectado da cidade e do que está acontecendo no momento.
Como o jornal é jurídico, fico monitorando sites da câmara, senado, STF, STJ, TST, ministérios e secretarias diversas em busca de algo que caiba no jornal, mas não tomo conhecimento dos protestos que ocorrem na cidade, das linhas de ônibus que foram canceladas, shows, eventos... Ou seja, de nada que me seria mais útil no meu dia a dia.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Rotina de adulto

É engraçado como a gente estuda a vida inteira para achar um emprego, e quando isso acontece passamos a reclamar do trabalho, assim como reclamávamos da escola e da faculdade. Mas por quê? Qual o motivo de fazermos algo que nos chateia, que não nos é prazeroso?

domingo, 27 de outubro de 2013

De volta pra casa

É muito bom estar de volta.
Eu tinha muita saudade de conviver com minha família, de ter alguém para contar o que fiz no dia, das piadas de humor duvidoso do meu pai, dos chiliques da minha irmã e da urgência nos pedidos da minha mãe.
Mas enquanto estive fora o mundo mudou.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Explosões em Bostom e preconceito

Um dia depois das explosões na maratona de Boston fui caminhar pelo distrito financeiro de NY e vi mais policiais nas ruas do que de costume. Apesar do aumento de vigilância nos pontos turísticos ninguém deixou de sair de casa por medo, a correria da vida na cidade continua.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Atualizando

Sumi do blog desde dezembro, e vou explicar o porquê.
Eu tinha acabado todas as aulas da universidade, só faltava entregar o trabalho final para receber meu diploma. Como eu estava longe de terminar minha pesquisa meu professor me deixou entregar o trabalho no final do próximo semestre letivo, ou seja, em maio.
O que meu professor não sabia é que eu sou um procrastinador.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Casamento Civil Igualitário

     Hoje li no Mix Brasil que o estado de São Paulo autorizou o casamento gay. Agora são 4 estados no Brasil onde ele é possível.
     Vários direitos nos são negados quando não podemos nos casar.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O cúmulo da intolerância

     Sabe quando lemos uma notícia tão absurda que nos faz duvidar se ela é verdade mesmo? Pois bem, nesses últimos meses tem saído em jornais e repercutido em várias mídias o projeto do deputado João Campos que cancela a resolução do Conselho Federal de Psicologia, a qual proíbe tratamentos com promessas de "curar" a homossexualidade.

E agora?

     Essa semana eu termino a faculdade. Foram quatro anos longe de casa, nos Estados Unidos, no meio do milharal. Às vezes me pergunto o porquê de eu ter escolhido estudar numa cidade tão pequena e isolada pra quem não tem carro. Também me pergunto se valeu à pena, e pra essa pergunta eu, hoje, tenho resposta: sim, lógico que valeu!